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Suavização das ideias patriarcais nos contos de fadas: uma tradução comentada de Charles Perrault

Par   •  12 Juin 2018  •  3 268 Mots (14 Pages)  •  502 Vues

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e lucrativos e teria como público leitor as crianças alfabetizadas, abrangendo a faixa etária de 7 a 10 anos.

Nessa perspectiva, meu primeiro projeto previa uma tradução com foco no autor, mantendo-a próxima do original francês, preservando o caráter antigo da história e da linguagem utilizada, porém fazendo modificações necessárias para que o texto fosse compreendido por uma criança. Esse projeto foi mantido nas quatro primeiras versões da tradução, finalizadas antes de começar a escrever este artigo. Inicialmente, também havia pensado em suavizar as ideias de morte e desgraça presentes no conto, mas essa proposta foi abandonada, por conta da faixa etária do público-alvo; aos 7 anos, a criança já tem algumas noções sobre morte e não faria sentido privá-la.

O conto foi trabalhado da seguinte maneira: primeiro, fiz cinco leituras individuais do original francês e, em cada uma delas, me atentei a aspectos diferentes (ritmo; zonas problemáticas; vocabulário; sintaxe; e pontuação). Em seguida, pensei no projeto condutor da tradução e fiz a primeira versão - sem comentários e sem apoio de dicionários ou mecanismos de pesquisa; as versões seguintes da tradução foram todas comentadas e contaram com o suporte de dicionários virtuais de francês, de português brasileiro, de rimas e de regências verbal e nominal, além de pesquisas no Google, no Google Imagens e no buscador online de traduções Linguee. A segunda tradução foi feita a partir do original francês; a terceira, baseada no último texto em português, sem considerar o original de Perrault. A partir da v. 4, pude me basear tanto nos textos em português, como no original; as duas últimas versões (5 e 6) foram feitas após consulta à bibliografia que será mencionada aqui.

Fiz seis versões da tradução acrescidas de notas (v. 2 a v. 6). Todos os comentários da v. 2 a v. 5 foram dispostos como notas de rodapé; a v. 6 responde ao contexto fictício de produção e foi pensada como versão final a publicar, contendo um prefácio e sem as notas de rodapé. Mais adiante, farei a análise desta versão final separadamente. As versões 2, 3, 4 e 5 possuem uma variação muito grande na quantidade de anotações feitas: a v. 2 contou com 26 comentários; a v. 3 teve apenas 4 notas; a v. 4 totalizou 19; e a v. 5 possui 14 comentários novos, mas nos apêndices ela reúne os comentários de todas as versões anteriores. Um dos fatores que provavelmente influenciou essa diferença foi o método utilizado ao produzi-las. Nas versões 2, 4 e 5, inseri comentários durante o andamento da tradução, enquanto a v. 3 foi anotada após sua conclusão. Em todas as versões, muitas mudanças na tradução não foram comentadas, pois quis concentrar as notas em áreas consideradas problemáticas e que, portanto, mereciam atenção especial; nas versões 4 e 5, comentei algumas modificações feitas já nas verões anteriores. Para efeito de contagem das notas de cada versão, considerei as novas anotações e, também, anotações anteriores que foram alteradas.

Seguindo a classificação proposta por Sardin, do total de 63 notas, a imensa maioria (89%) tem a função meta-, que aborda questões sobre o processo de tradução. Apenas 11% delas encaixam-se no conceito de nota de exegese, cuja função é elucidar ao leitor uma noção cultural ou civilizatória. Isso acontece, por exemplo, com a nota de rodapé 38 da v. 5, na qual foi necessário explicar uma questão cultural brasileira que justificasse a substituição do termo “morte” por “fantasma”:

- Je n’en sais rien, répondit la pauvre femme, plus pâle que la mort.

- Eu não sei de nada, respondeu a pobre mulher, mais pálida do que um fantasma. [NOTA]

Nota: No Brasil, a morte costuma estar associada à cor preta. Em sua personificação, por exemplo, há sempre uma capa preta e uma foice. Desse modo, preferi substituir “morte” por “fantasma”, sempre pálido e associado à cor branca.

Analisando os comentários sob a perspectiva estabelecida por Cesar, seria possível classificar 57% deles como notas de caráter geral que tratam dos problemas de tradução; 40% seriam idiossincrasias estilísticas do tradutor, relatando escolhas arbitrárias em busca de um melhor resultado estilístico no PT-BR; e apenas 3% constituiriam as notas de sintaxe. Realizar a classificação de notas previamente escritas é bastante difícil e provavelmente muitas delas poderiam entrar em mais de uma categoria. Ainda assim, fica claro que quase não foram feitas notas sobre problemas de sintaxe. Diversas alterações sintáticas feitas ao traduzir o texto passaram desapercebidas durante a elaboração dos comentários; certamente o número de notas dessa classe deveria ser maior.

Outras estratégias aplicadas na atribuição das anotações - como consulta bibliográfica prévia, ou determinação de quais tipos de comentários seriam adotados - também alterariam os números. Como muitos processos de tradução são inconscientes, eles acabam não sendo verbalizados. A própria verbalização impacta sobre os processos: mais de uma vez, desfiz mudanças imediatamente após escrevê-las, pois ao tentar justificá-las percebi que não estavam de acordo com o projeto inicial.

Desde a v. 2 até a v. 4, as anotações estavam sendo feitas para explicar algumas escolhas tradutológicas que pareceram problemáticas ao longo do processo e para mostrar como elas se encaixavam no projeto inicial de tradução. Não havia um objetivo maior em fazê-las, além da necessidade de escrever a tradução comentada a ser usada como base para um futuro artigo. Pensando nos dois contextos de produção já citados, os comentários teriam muito valor no contexto acadêmico; eles seriam tão essenciais ao artigo quanto a própria tradução. Porém, os mesmos comentários seriam removidos de uma publicação voltada para crianças de 7 a 10 anos - público-alvo fictício - por não serem essenciais à compreensão da obra.

Para escrever a última versão da tradução, alterei o projeto inicial. Mantive os mesmos contextos de produção real e fictícios do primeiro projeto, porém, após consultar a bibliografia usada como fundamentação teórica deste trabalho, quis propor uma versão final totalmente voltada à publicação e gostaria de escrever comentários que fossem igualmente pertinentes ao público acadêmico e ao mercado editorial. Assim, decidi suavizar as ideias patriarcais presentes em Perrault; para manter a coerência com essa proposta, também eliminei algumas noções ligadas à cultura machista, como a submissão feminina em relação ao homem e a competição entre as mulheres.

Os contos de fadas possuem intencionalidades

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